quinta-feira, 22 de março de 2018

Fundos de Índice (ETF) x Ações Individuais



Esses dias estava, como de costume, navegando pela blogosfera de finanças e me deparei com o seguinte post do Vagabundo: de calças arriadas, minhas ações.

Em suma, nesse post ele abre a carteira de ações dele, mas o mais interessante é que ele fez uma comparação, dos últimos 12 meses, entre o desempenho da carteira dele, o Ibovespa, um fundo de ações (BNP Paribas) e o ETF* GOVE11.

 *Se você não sabe o que é um ETF, resumidamente é um fundo que busca espelhar determinado índice. Por exemplo, o BOVA11 é um ETF que busca espelhar o índice Bovespa, portanto ao investir no BOVA11, você estará investindo, de uma vez só, numa fração de todas as empresas que compõem o índice Bovespa.

O resultado foi em uma ponta o fundo de ações do BNP levando uma surra, e na outra ponta o GOVE11 apresentando o melhor resultado, ligeiramente acima do Ibovespa e da carteira de ações do Vagabundo.

Isso o levou a seguinte reflexão:

"o investimento em ETF teria me dado um resultado muito melhor. Sem falar na economia de tempo - não precisar acompanhar diversas ações, controlar, declarar uma por uma no IR todo ano. Esses números me surpreenderam e me fizeram pensar. Como pode um índice cheio de empresas geridas por políticos bater uma carteira de empresas escolhidas a dedo?


Assim como ele, eu também fiquei espantado com o resultado apresentado, afinal, temos trabalho estudando empresas, analisado resultados, lendo balanços, tudo para buscar empresas sólidas e de valor, que possa entregar resultados crescentes e, consequentemente, valorizar suas ações. Isso sem mencionar a chatisse que é declarar imposto de renda, etc.

Do outro lado, quem investe em ETF praticamente não tem trabalho nenhum de análise, é simplesmente confiar que aquele índice vai performar bem ao longo do tempo, seja por uma perspectiva setorial, seja por puro achismo.

Então, no fim das contas, será que investir em ETF vale mais a pena que investir em ações individuais?



Apesar do choque inicial, com um pouco mais de reflexão percebemos que o prazo de análise utilizado pelo Vagabundo foi muito curto, apenas 12 meses, para quem investe em ações de valor, os resultados costumam ser melhor mensurados no longo prazo. Além disso, o prazo analisado, últimos 12 meses, está inserido num contexto de mercado em alta, ambiente em que os ETF se saem muito bem.

Dessa forma, visando aprofundar essa análise e ter um resposta mais clara sobre o vencedor do embate ETF x Ações Individuais, resolvi fazer um estudo mais aprofundando, num prazo de 5 anos, comparando uma situação hipotética de dois investidores que aplicaram R$ 30 mil na bolsa no início de 2013 e o resultado que ele obteve até hoje, sendo que um deles investiu em ações individuais e o outro em ETFs.

De um lado, o investidor A, que optou por investir em ações individuais. Para esse investidor, vou replicar a minha carteira pessoal (da vida real!), que é 100% baseada em valor. Portanto, em 07/01/2013 o investidor A escolheu seis empresas e aplicou cerca de R$ 5 mil em cada, conforme a carteira seguinte:


Posição em Jan/2013

Já o investidor B, não querendo "se arriscar" a comprar ações individuais, resolveu investir na bolsa por meio de ETFs, escolhendo os seguintes ETFs: BOVA11, PIBB11 e SMAL11. Por que eu escolhi esses ETFs? Por que são os indicados pelo Blog do Henrique Carvalho um blogueiro de finanças mainstream (na verdade nem sei se ele ainda escreve sobre finanças) que é ferrenho defensor de ETFs frente ao investimento direto em ações. Bom, a carteira do investidor B ficou da seguinte forma:


Posição em Jan/2013
 
Avançando-se pouco mais de 5 anos no tempo, mais especificamente até o dia 19/03/2018, as carteiras do investidor A e do investidor B ficaram da seguinte forma:

Posição em Mar/2018

Posição em Mar/2018

Obs¹: as informações sobre as cotações históricas foram obtidas do site tradingview.com
Obs²: as informações sobre dividendos e JSCP foram obtidas nos sites das empresas
Obs³: na tabela os JSCP não estão descontados de imposto de renda, porém o valor seria irrelevante para o resultado da comparação

Importante destacar que o investidor em ETF não recebe dividendos e JSCP em sua conta, em tese esses valores são reinvestidos automaticamente pelo próprio ETF. No caso do investidor em ações individuais ele também pode (e deve) reinvestir os dividendos, porém no meu estudo (para facilitar) considerei que ele não o fez.

Outro ponto importante é relacionado à tributação. O ganho de capital em ETF é tributado em 15%, independente do valor, já nas ações há isenção de IR para operação de venda de até R$ 20 mil por mês.

A comparação final entre os dois investidores fica então da seguinte forma:



O investidor B, que não teve muito trabalho de análise e simplesmente enfiou seu dinheiro em três ETFs, obteve uma rentabilidade líquida de 28,3% em 5 anos e 3 meses, média de 0,4% ao mês, seguramente um desempenho pior do que obteria na renda fixa, principalmente no período analisado, em que a Taxa Selic estava nas alturas.

Já o investidor A, que se empenhou um pouco mais em escolher boas empresas e acompanhar, pelo menos trimestralmente, o seu desempenho, obteve um rendimento líquido de 124,1% no mesmo prazo, média de 1,9% ao mês. Isso porque eu não considerei que o investidor A reaplicou os dividendos recebidos, senão o retorno poderia ser ainda maior.

Conclusão

Esse não é nenhum estudo acadêmico mas acho que indica que a estratégia de gestão ativa de uma carteira de ações tem muito mais potencial de retorno, no longo prazo, em se comparando com um investimento passivo, como em ETFs.

Os ETFs tem seu propósito, principalmente para os investidores iniciantes ou para aqueles que não se sentem suficientemente seguros para comprar ações por conta própria, entretanto o esforço de estudar e escolher boas empresas compensa no bolso daqueles que o fazem.

Na minha opinião, o investimento em ações baseado em valor ainda é o método de melhor custo/benefício, pensando na variável retorno/risco, porém certamente não é um método indicado para preguiçosos e medrosos (tinha que ter uma cutucada né?).

Abraços,

Senhor Ministro

quinta-feira, 15 de março de 2018

E Se os Impostos Fossem Extintos...


Não é segredo para ninguém que aqueles que tem uma visão de mundo mais financista, como imagino que seja a maioria das pessoas que frequentam este blog, tendem a ter uma pensamento mais liberal economicamente falando, ou seja, acreditam que a economia, e tudo que ela influencia, poderia fluir melhor com menos intervenção governamental.

Apesar de reconhecer que em alguns segmentos a atuação estatal tem sua importância, e de ter plena ciência que a iniciativa privada não é nenhuma maravilha - também padecendo de problemas como ineficiência, corrupção e politicagem -, tendo a acreditar que o governo, na maioria das vezes, mais atrapalha do que ajuda.

Dai me veio a seguinte "viagem": E se os impostos fossem extintos? Zero imposto!

O pensamento inicial é achar que o mundo seria bem melhor pois os preços iam cair drasticamente e a população em geral teria acesso facilitado a bens de consumo, por exemplo, um carro que custa R$ 40.000,00 (sendo que R$ 15.000,00 são de impostos), com a extinção dos impostos passaria a custar R$ 25.000,00. Dessa forma muito mais pessoas poderiam comprar esse carro e assim a economia ia girar muito mais forte, aumentando o nível de emprego, etc. Isso aconteceria em todos os setores, impulsionando o crescimento econômico e a satisfação das pessoas.

Mas vamos enxergar por outra ótica, tomando o exemplo do carro. Supondo que o empresário vende o carro por R$ 40 mil, sendo R$ 15 mil o custo do carro, R$ 15 mil de imposto e R$ 10 mil o seu lucro. Se eliminássemos os impostos e o empresário continuasse vendendo o carro por R$ 40 mil, o seu lucro, que antes era de R$ 10 mil, passaria para R$ 25 mil.

Entretanto, como essa margem maior de lucro, a concorrência de preços certamente ficaria acirrada, de forma que esse carro passaria a surgir em "promoções" por R$ 35 mil, R$ 30 mil, ou até R$ 25 mil. Com o carro sendo vendido a R$ 25 mil, o lucro do empresário seria exatamente o mesmo de antes da extinção do imposto: R$ 10 mil.

Então, no longo prazo, não havendo cartelização do mercado, e a concorrência funcionando, haveria uma tendência de a margem de lucro do empresário retornar ao mesmo patamar de antes da extinção dos impostos.

Mas se as mercadorias ficam mais baratas, as pessoas podem comprar mais, e assim uma coisa compensa a outra, certo?



Vamos analisar isso sob uma outra ótica também:

Com a queda dos impostos, a tendência é que todos os produtos em todos os segmentos caiam de preço. Então, enquanto antes, um cidadão precisava de uma renda mensal de R$ 2 mil para ter uma vida decente, agora R$ 1 mil já são suficientes para proporcionar o mesmo padrão de vida. Os empresários logo percebem isso e pensam: se meu peão de fábrica pode ter uma vida digna ganhando R$ 1 mil, não tem sentido eu pagar R$ 2 mil pra ele, portanto vou propor redução salarial já que o custo de vida em geral caiu bastante com a extinção dos impostos.

Então vejam que nesse cenário que eu teorizei, após a extinção dos impostos, o mercado em geral tenderia a se "acomodar" à essa nova realidade, com a tendência de queda dos preços (ruim para o empresário) e queda dos salários (ruim para o trabalhador). No fim das contas, a margem de lucro do empresário tenderia a ser parecida com a que ele tinha antes da extinção dos impostos, e, igualmente, o poder de compra do trabalhador tenderia a ser semelhante à época em que havia impostos.

Não sou economista, talvez existam variáveis importantes que eu não esteja levando em consideração, mas me parece que esse seria um cenário plausível.

Estou defendendo a cobrança de impostos? De forma alguma! Só estou teorizando o quanto a economia iria, de fato, se beneficiar com uma medida extrema como a extinção de todos os impostos.

Abraços,

Senhor Ministro

terça-feira, 13 de março de 2018

Feito é Melhor que Perfeito



Há um tempo atrás, participando de uma reunião, eu indicava para os integrantes da outra ponta da mesa a urgência de tomar uma atitude para solucionar determinado problema, que já se arrastava há bastante tempo. Os interlocutores reconheceram a relevância do problema, porém relataram que não poderiam fazer nada no curto prazo, por se tratar de um tema complexo, que demandaria a participação de outras entidades, de pessoal especializado e estudos técnicos. Informaram então que qualquer atitude demandaria um prazo bem longo.

Ressaltei então que o problema já vinha se arrastando há anos, que várias pessoas já tinham pego aquele “abacaxi” mas nunca tomaram atitudes concretas para resolvê-lo. Falei então que era preciso tomar uma atitude urgente para dar um jeito naquilo, alguma solução rápida precisava ser encontrada, mesmo que não fosse a melhor e mais perfeita possível.

Foi aí que eu falei a frase que intitula esse post: “feito é melhor que perfeito”. Apesar de ser uma expressão bem conhecida, naquela reunião ninguém a conhecia, e fez até relativo sucesso.

A verdade é que, muito possivelmente, os tais “estudos técnicos” de longo prazo que estavam sendo propostos, seriam só mais uma forma de postergar a solução do problema e empurrar o pepino para outro (como já deve ter sido feito anteriormente ao longo dos anos). Ou seja, apenas um subterfúgio para evitar o enfrentamento do problema.

Todo mundo fingindo gostar da ideia enquanto pensam outras formas de postergar o problema

Apesar de esse ser um exemplo corporativo, nós, em nossas vidas pessoais, muitas vezes adotamos a mesmíssima postura:

Nós até queremos investir em ações e fundos imobiliários mas temos medo de perder o dinheiro investido ou escolher os papéis errados;

Nós até queremos iniciar um negócio, mas temos medo de colocar a cara a tapa e no fim das contas o empreendimento fracassar;

Nós até queremos malhar e ficar com o corpo sarado, mas temos medo de pagar a academia e no fim das contas nem pisarmos lá;

Nós até queremos sair de um relacionamento falido, mas temos medo de nos sentir solitários ou não achar mais ninguém interessante;

E o que a gente faz quando tem medo? Ou assumimos nossa covardia ou tentamos nos enganar. Poucos gostam de assumir sua covardia, então, ao invés disso se enganam:

Estudam empresas, se cadastram no Folhainvest, e planejam comprar milhares de ações mas nunca sequer abrem uma conta em uma corretora;

Estudam negócios, assistem conteúdo de vendas, buscam produtos, tudo para montar uma mega empresa que nunca sai do papel;

Leem sobre musculação e nutrição, os melhores alimentos, os melhores exercícios, as melhores academias, mas nunca pegam um peso sequer;

Conversa com amigo(a)s sobre seu relacionamento, participa de fóruns de relacionamento na internet, lê livros sobre o assunto, mas continua com o mesmo relacionamento falido.

Preparação, planejamento, estudo, tudo isso é muito importante, no entanto chega um ponto que o planejamento deixa de ser planejamento e passa a ser apenas uma forma de nutrir o medo, de sabotar a execução do plano.

Nada substitui uma coisa: a ação!

Mas como agir se, justamente, eu tenho medo de agir?

Para responder a essa pergunta, vou trazer uma lição do livro “Os Segredos da Mente Milionária”:
“As pessoas ricas agem apesar do medo. As pessoas de mentalidade pobre deixam-se paralisar pelo medo.”

É muito simples: a melhor forma de perder o medo de agir é dando o primeiro passo, ou seja, agindo!

Parece contraditório mas deixa eu explicar:

- Se você tem planos de alocar R$ 50 mil em ações, diversificando em pelo menos 5 setores diferentes, que tal começar comprando apenas R$ 500,00 de ações de uma única empresa?

- Se você quer lançar um negócio online super incrementado, que tal começar fazendo um Mínimo Produto Viável (MVP)?

- Se você quer perder peso e ficar sarado, que tal começar com uma caminhada de 20 minutos, duas vezes por semana?

- Se você quer melhorar ou se livrar do seu relacionamento, que tal começar chamando a parceira ou parceiro para uma conversa franca?

O primeiro passo é transformador!

Os primeiros R$ 500,00 investidos na bolsa, não são só R$ 500,00. São na verdade um grande quebrador de uma barreira invisível. Eu mesmo enrolei demais pra entrar na bolsa, por medo, medo de perder dinheiro, de não saber como fazer, de não escolher a melhor corretora, de não comprar as melhores ações.  

Comecei em julho/2017 investindo R$ 3.400,00, um tanto perdidão, até dei uma vacilada na compra de uma ação que me levou a pagar corretagem desnecessariamente, mas foi uma quebra de barreira violenta. Hoje já tenho mais de R$ 30 mil investidos na bolsa, opero o home broker da minha corretora com naturalidade e obtive rentabilidades que não podia sonhar com a poupança: de acordo com meu fechamento de fevereiro/2018, minhas ações valorizaram 15,8% em 8 meses, e meus FII valorizaram 19,6% em 7 meses, isso sem mencionar os proventos recebidos. Antes disso, havia passado anos auferindo no máximo, 8% ao ano com a poupança.

O primeiro passo transforma, o primeiro passo abre portas que pareciam intransponíveis. Provavelmente o primeiro passo não vai ser o melhor que você pode fazer, provavelmente você vai fazer alguma coisa errada, mas o que importa é quebrar a barreira, afinal, feito é melhor que perfeito!

Abraços,

Senhor Ministro